quinta-feira, 24 de maio de 2012

Crisântemo

(Dudu Costa)

O Rio era chuva morena
o morro molhado, nem se sabia a maré

Água saída, água chegada
Repetia-se o céu da tarde aguaceira

Era chuva, salgada, de corte afiado
Que nem ferradura espantava

O céu havia criado gotas eternas:
- devoravam corações incautos

Seu nome ecoava na cabeceira das minhas montanhas
Paroxítona palavra, flor pequenina

Do interior soava a voz que eu ouvia:
cordas banhadas de ouro branco e neblina

Naquela noite alva, sua pálpebra se cercava de lembranças
e os desejos voavam aonde só pode o espírito das aves

O Rio era chuva passante,
o sol que explode quando 
um crisântemo 
destrona 
o anoitecer.




segunda-feira, 14 de maio de 2012

Arquitetura

(Dudu Costa)

Quando sonho os edifícios
A concreta criatura
Cria em mim seus precipícios
A mais funda formosura

Canto um verso de coluna
Feita a sílaba e fissura
Brotam casas sobre a duna
No deserto a agricultura

O meu corpo é sua planta
Onde a pena faz pintura
Sobre os altiplanos canta
Curvilínea arquitetura

A morada da loucura
Faz projeto nos meus planos
Esquadrinha a estrutura
Alvorece o novo engano

Pode a onda que ressoa
Libertar da escravatura?
Pois o chão que habito voa
Nasce assim uma outra jura